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Arquitetos: Canoa Arquitetura, Maria João Figueiredo
- Área: 334 m²
- Ano: 2019
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Fotografias:Ana Mello
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Fabricantes: Casa da Coifa, Coral, Deca, Fernando Jaeger, Granidomus, Ladrilar, REKA
Descrição enviada pela equipe de projeto. Em meados de 2018 um casal de paulistas com dois filhos vestibulandos decidiu retornar a São Paulo após morar mais de 15 anos na capital fluminense. O trabalho da Canoa Arquitetura iniciou-se com a pesquisa, apoio e orientação para a aquisição de um apartamento que deveria estar localizado na região centro-oeste de São Paulo. O imóvel teria que ser espaçoso, capaz de acomodar tanto as atividades do morar quanto aquelas relacionadas ao trabalho dos dois profissionais, que teriam um escritório e um ateliê em casa.
Após visitar mais de trinta imóveis, a equipe deparou-se com uma cobertura na Rua Martins Fontes, o coroamento de um edifício projetado por um dos pioneiros do modernismo paulista, o arquiteto Gregori Warchavchik. De imediato, a amplitude dos espaços, a abundante iluminação natural e o grande terraço descoberto cativaram a família.
Apesar das qualidades intrínsecas, o imóvel original já fora muito modificado, tendo passado por sucessivas reformas. O terraço tinha um caráter muito linear, dificultando o uso como espaço de estar e fora parcialmente ocupado por um anexo precário. O corredor de acesso era apartado da sala por uma estante opaca de alvenaria que emulava concreto. A cozinha dispunha de uma organização pouco funcional.
Uma pesquisa no acervo da Biblioteca da FAUUSP, confrontada com a leitura de documentos cartoriais indicou que a unidade constava no projeto original como um salão de festas, mas que fora comercializada, desde a incorporação, como uma unidade autônoma. Isso ajudou a explicar o caráter monumental da escada de acesso ao pavimento superior, ainda preservada, e cujo detalhamento consta nos desenhos originais de Warchavchik.
Adaptar o apartamento às demandas dos novos moradores foi o ponto de partida para o projeto, num processo que teve muita participação de todos. Buscou-se realizar intervenções bem demarcadas, entre as quais se destacam: a conversão de parte de um dormitório em escritório, com acesso exclusivo pela área externa; a reconfiguração integral da cozinha, com a incorporação de uma ilha ao redor da qual é possível circular, cozinhar, conversar e realizar refeições; a construção de um pergolado de madeira com cobertura de lona impermeável sobre parte do terraço, espaço que abriga rede e uma mesa de refeições; a qualificação do terraço por meio da acomodação de jardineiras abundantemente vegetadas, irrigadas, em parte, com água de reuso proveniente o telhado.
A estante maciça da entrada foi substituída por outra menor, de marcenaria de compensado naval de pinus, muito leve e transparente, destinada a acomodar grande parte da biblioteca da família. Outra estante de livros feita de compensado estabelece um contraponto à transparência da primeira justapondo-se à parede sul do ateliê. Outros elementos de compensado naval de pinus aparente foram incorporados à marcenaria da cozinha, ilha e nicho da geladeira.
Na cozinha, um barrado de ladrilho hidráulico decorado e bancadas pré-moldadas de granilite completam a paleta de materiais, pensada para dialogar com os elementos pré-existentes.
A escada monumental, assim como os pisos de taco de madeira originais foram preservados e restaurados. Nos pisos da cozinha, circulação e ateliê empregou-se pintura epóxi na cor azul, aplicada sobre contrapisos remendados. Tal operação objetivou evidenciar as intervenções promovidas na obra, o que resultou em maior rusticidade no acabamento – proposta muito bem aceita pelos clientes.